A noção de que o comprometimento organizacional é relevante para o
desempenho individual e organizacional tem conduzido numerosos investigadores
em psicologia organizacional (Allen e Meyer, 2000; Swailes, 2000) a estudar os seus
potenciais antecedentes.
Envolvidas em ambientes (tecnológicos, de mercado, laborais)
progressivamente turbulentos, inseridas em contextos competitivos à escala
global, enfrentando problemas inéditos reivindicando soluções criativas/inovadoras,
as organizações necessitam cada vez mais do comprometimento dos seus
colaboradores. Enunciando de outro modo: precisam que os seus membros denotem
amor à camisa, espírito de entrega, orientação para elevados desempenhos e
disponibilidade para executar comportamentos de cidadania (Rego, 2002).
De acordo com Allen e Meyer (2000, apud REGO; SOUTO, 2004), o termo
comprometimento organizacional refere-se aos laços psicológicos que o indivíduo
mantém com a organização, e que faz diminuir a probabilidade dele deixá-la.
Para esses autores o comprometimento pode estar fundamentado em três aspectos
isolados entre si ou em alguma combinação entre eles. São os aspectos afetivo –
que corresponde ao desejo e o sentimento de ficar na empresa; normativo – que
se refere a algum tipo de obrigação moral que leva a pessoa a ficar na
organização e instrumental - uma necessidade material que leva o indivíduo a
ficar na firma.
Goleman (1999) atestou a importância do tema ao associar as pessoas
comprometidas à tendência em atuar como 'patriotas' das suas organizações e
representam modelos de atuação que os restantes membros organizacionais tendem a
imitar.
O comprometimento afetivo (e, menos intensamente, o normativo) induz
menores intenções de abandonar a organização, menos abandonos efetivos, mais baixos
índices de absentismo, mais comportamentos de cidadania e superior desempenho.
A vontade dos indivíduos de contribuir para os objetivos organizacionais parece
ser influenciada pela natureza do laço psicológico que os liga à organização. É
mais provável que exerçam elevados esforços de desempenho quando desejam pertencer
à organização, do que quando se sentem obrigados ou necessidade de nela se
inserirem.
Entre os antecedentes que mais explicam (positivamente) o
comprometimento normativo e, especialmente, o afetivo encontram-se a
afetividade positiva, a liderança transformacional, o apoio organizacional
percebido, a receptividade da gestão às sugestões dos empregados, o apoio do
supervisor e dos colegas, a clareza do papel, a recepção de feedback relativo
ao desempenho, as funções enriquecidas/desafiantes, a percepção de que os
valores organizacionais têm orientação humanizada e visionária, a percepção de
que as organizações atuam de modo socialmente responsável (econômica, legal,
ética e filantropicamente) e as percepções de justiça (Rego, 2004).
A satisfação de necessidades inferiores (fisiológicas e de segurança)
pode ser atendida por meio de valor monetário, mas quando elas já estão
satisfeitas, as pessoas passam a ser motivadas apenas por espécies superiores
de “pagamento” — filiação, afeição, dignidade, respeito, apreciação, honra —
assim como pela oportunidade de individuação e a promoção dos valores supremos:
verdade, beleza, eficiência, excelência, justiça, perfeição, ordem,
legitimidade etc. (MASLOW, 1972, p. 45).
Pesquisadores como Garcia-Zamor (2003) e Giacalone e Jurkiewicz (2003),
apontam que os indivíduos se empenham mais no trabalho e na organização e
melhoram o desempenho, quando podem satisfazer as suas necessidades espirituais
de modo “apropriado”. Quando as organizações promovem a esperança e
a felicidade, os trabalhadores ficam mais capacitados para lidar com o stress e
isto contribui para o incremento do desempenho organizacional (REGO, CUNHA;
SOUTO, 2005, p. 17).
A espiritualidade nos locais de trabalho pode ser definida como “o
reconhecimento de que os empregados têm uma vida interior que alimenta, e é
alimentada, pela realização de trabalho com significado num contexto de
comunidade” (ASHMOS; DUCHON, 2000, p. 137).
Colaboradores que desenvolvem um vínculo e encontram um sentido
psicológico de comunidade de trabalho, ficam mais satisfeitos (BURROUGHS; EBY,
1998) e apresentam melhor desempenho individual e organizacional (PODSAKOFF et
al., 2000).
Como a busca por maior produtividade é um objetivo da empresa, é
provável que a adoção de valores humanos torne-se uma estratégia de gestão que
impacte positivamente no sentido do trabalho, levando os indivíduos a
canalizarem a sua existência (física, mental e emocional) para a organização,
assumindo o trabalho mais como uma “vocação” do que como um “emprego”, o que
pode resultar em maior desempenho (GAVIN; MASON, 2004).
Existe um movimento amplo e crescente de busca de estados mais elevados
de consciência, que estimulem as pessoas, equipes e as organizações a
identificar e praticar ações visando tornar a empresa uma cidadã consciente em
sua comunidade. O comprometimento no trabalho tem implicações diretas na
relação da empresa com os clientes, visão de resultados, liderança,
gerenciamento de pessoas, ecologia, educação, desenvolvimento e bem-estar
físico, emocional e espiritual (BOOG, 2003, p. 1).
Como tentativa de adotar definições e parâmetros de identificação de
funcionários comprometidos ou não, Cerqueira (1994) expõe que numa empresa onde
predomina a sinergia do comprometimento, observa-se que: não existem feudos; -
as pessoas se ajudam; - cuidam da empresa; - fazem além do que é pedido ou
necessário; - assumem mais responsabilidades; - integram-se melhor aos colegas
de trabalho; - valorizam o esforço e a criatividade.
Castro (2002) acrescenta que um funcionário é comprometido quando
compartilha os valores e objetivos da empresa, sentindo-se responsável pela
execução das estratégias propostas, quando há um engajamento do indivíduo com
variados aspectos do seu ambiente de trabalho ou quando levam as empresas a
competir com mais qualidade e com altos níveis de produtividade, além de darem
o melhor de si para a organização, mesmo sem controle rígido.
Dado que o comprometimento afetivo assenta na ligação emocional com a
organização, os colaboradores afetivamente associados tendem a desenvolver
esforços em prol da organização mais significativos do que os indivíduos com
fraco laço afetivo (REGO, 2007, p.10).
Crescentemente, algumas organizações vem procurando transcender os
aspectos materiais, preocupando-se “em ajudar as pessoas a desenvolver e
alcançar seu pleno potencial” (ROBBINS, 2005, p. 390). Tornam-se, então,
organizações humanizadas.
De acordo
com Krishnakumar e Neck (2002), a adoção de valores humanos pode incrementar o
potencial intuitivo e criativo dos colaboradores, fomentar a honestidade e a
confiança entre os membros organizacionais e entre eles e outros stakeholders (e.g., clientes),
incrementar o sentimento de realização pessoal dos indivíduos, revigorar o
empenhamento dos colaboradores na organização e promover o desempenho
organizacional. Empregados que se sentem justa e respeitosamente tratados
sentem que são reconhecidos como entes com valor intelectual e emocional (KIM;
MAUBORGNE, 1998), e não apenas como “recursos”.
Quando o
desenvolvimento individual e os objetivos pessoais são consistentes com os
objetivos organizacionais, a identificação dos empregados com a organização é
revigorada, e estes se empenham mais e impregnam o seu trabalho com significado
(RICHARDS, 1995), o que pode também conduzir a melhores desempenhos. Ao
contrário, quando a vida pessoal colide com a vida organizacional, as pessoas
experimentam dissociação da organização e alienação perante o trabalho, o que
tende a conduzir a maiores níveis de absenteísmo, turnover, comportamentos de negligência e menor desempenho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário