Whittington (2002) concorda
que não há muita concordância entre os estudiosos a respeito da estratégia. Sua
tentativa de desvendar os tópicos relacionados ao tema contribui com a
apresentação de diferentes concepções sobre o que é e como desenvolver a
estratégia.
Assim, Whittington (2002) contribui para a discussão
sobre o processo de formulação da estratégia, propondo quatro perspectivas
distintas: A clássica, a evolucionária, a sistêmica e a processual, que
apresentam diferentes concepções sobre como se dá a estratégia e quais os seus
resultados.
O autor apresenta diferentes
abordagens que se diferenciam fundamentalmente em duas dimensões: os resultados
da estratégia e os processos pelos quais ela surge. Ao Analisar a Figura 3
sugerida por Whittington (2002), percebe-se que o eixo vertical mede o grau em
que a estratégia produz resultados, sejam eles de cunho puramente econômico que
prevêem a maximização de lucros ou de forma plural que consideram os demais
interesses organizacionais como a aceitação social e o status. Por sua
vez, o eixo horizontal considera a forma como a estratégia surge, através de
processos deliberados ou emergentes. Para resumir, os dois eixos refletem
respostas diferentes para duas questões fundamentais: Para que serve a
estratégia e como ela é desenvolvida (WHITTINGTON, 2002).
Clássica Evolucionária
Processos Emergentes
Deliberados
Sistêmica Processual
Plural
Fonte: Whittington (2002).
A abordagem clássica, representada por estudiosos
como Igor Ansoff, Michael Porter, Chandler
e Sloan, associa a concepção de estratégia a processos racionais, utilitaristas e deliberados,
tendo como objetivo principal a maximização dos lucros, de forma a aumentar as vantagens
competitivas da organização. Isso quer dizer que
o sucesso ou fracasso da organização são
determinados internamente. Comparada com a classificação
proposta por Volberda (2004), essa abordagem
de Whittington (2002) se encaixa na perspectiva
clássica da gestão estratégica.
Segundo Whittington (2002), as noções em torno da
formulação da estratégia na abordagem clássica
derivam da economia escocesa do século XVIII, enquanto sua implementação
reporta-se ao modelo militar da Grécia antiga. Nessa
abordagem predomina a noção do homem econômico racional, visto como um empreendedor,
“agindo com perfeita racionalidade para
maximizar ‘sua’ vantagem competitiva”.
Assim, a formulação da estratégia emerge de
planejamentos de longo prazo e os gerentes atuam como os grandes arquitetos
estratégicos, havendo uma dissociação entre a concepção e a implementação.
Tal abordagem é mais relevante em ambientes
estáveis e relativamente previsíveis.
A segunda abordagem de Whittington (2002)
sugere que é o ambiente que seleciona a empresa,
enfatizando a adaptação organizacional. Assim
como na abordagem clássica, o objetivo principal
é a maximização dos lucros.
Os teóricos dessa linha não acreditam na
adaptação deliberada e sustentável das organizações,
tendo em vista sua capacidade limitada de previsão e reação às inconstâncias ambientais.
Diante de mercados competitivos, sob o ponto
de vista dos evolucionistas, estratégias deliberadas
não bastam para sustentar uma vantagem competitiva. São mais importantes as
iniciativas inovadoras, das quais o ambiente possa
selecionar a melhor (WHITTINGTON, 2002). Portanto, do ponto de vista
evolucionário, o mercado seria o determinante nas escolhas estratégicas e os
estrategistas devem apenas ajustar com eficácia o comportamento das
organizações a este ambiente instável.
De forma análoga à perspectiva evolucionista, a abordagem processual
também defende que a estratégia não se desenvolve de forma racional.
Conforme Whittington (2002), dois são os princípios fundamentais do
pensamento processualista: (a) os limites cognitivos da ação humana, pois o
homem possui uma capacidade racional limitada, que o impede de analisar uma
série de fatos concomitantemente, tornando parcial sua interpretação do
ambiente; (b) e a micropolítica das organizações, coalizões de indivíduos que
possuem interesses próprios e barganham entre si para buscar uma solução
conveniente a todos.
A estratégia é um processo emergente descoberto durante a ação e que
atenderá a interesses pluralistas e não apenas à maximização dos lucros (WHITTINGTON,
2002).
Nessa concepção, a formulação estratégica não deriva apenas do
posicionamento da organização no mercado, mas da capacidade de criar e renovar
recursos distintos. O desempenho superior sustentável, na percepção processual,
volta-se para o âmbito interno, construindo as habilidades e competências essenciais.
Outro ponto sugerido é a visão micro política das
organizações. Estas não seriam unidas pelo interesse coletivo único do lucro,
mas, sim, seriam formadas por coalizões de indivíduos com interesses pessoais e
inclinações cognitivas que barganham entre si para atingir objetivos comuns,
mais ou menos aceitáveis por todos (WHITTINGTON, 2002).
Segundo Whittington
(2002) a estratégia emerge de um processo pragmático de aprendizado e
comprometimento. Para o autor, a abordagem processual combina com
burocracias protegidas, principalmente do setor público ou quase privado, pois
muitas vezes o tamanho e a complexidade da organização exigem que o processo de
estratégia envolva vários fatores e atores sociais.
A principal mensagem da abordagem sistêmica é que a estratégia deve ser
vista sob o prisma sociológico. Enfatiza-se, portanto, o ambiente externo. Os
teóricos sistêmicos defendem que os tomadores de decisões não possuem
interesses puramente econômicos e utilitaristas. Na verdade, todos os
indivíduos fazem parte de um sistema social que exerce pressões para que as
organizações se amoldem a formas locais de realidade (WHITTINGTON,
2002).
Para Whittington (2002), as pressões da competição não
garantem que os maximizadores de lucro serão os únicos a sobreviver: Os
mercados podem ser manipulados ou iludidos, e as sociedades têm outros
critérios, além do desempenho financeiro. A produção da estratégia nessa abordagem atende aos
interesses plurais das organizações. Assim, os objetivos e a forma como as
estratégias serão concebidas e implementadas estarão relacionados com as
características sociais dos estrategistas e do contexto, sendo que as regras da
cultura da sociedade local exercerão grande influência (Whittington, 2002), o
que remete à perspectiva pós-moderna de (VOLBERDA, 2004).
Com essas quatro perspectivas Whittington (2002)
responde à pergunta que abre o artigo: Afinal, como se formam as estratégias? O
autor não defende a primazia de uma sobre a outra, mas afirma que, em
decorrência de certas características da organização e do seu ambiente, haverá
uma mais condizente: “Não há maneira melhor. A chave é adequar a estratégia ao
mercado, aos ambientes organizacionais e sociais” (Whittington, 2002). As
quatro perspectivas diferem entre si e é a sensibilidade sistêmica que auxilia
na escolha correta, segundo o autor.
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