segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Estratégia sob a Perspectiva de Whittington


Whittington (2002) concorda que não há muita concordância entre os estudiosos a respeito da estratégia. Sua tentativa de desvendar os tópicos relacionados ao tema contribui com a apresentação de diferentes concepções sobre o que é e como desenvolver a estratégia.
Assim, Whittington (2002) contribui para a discussão sobre o processo de formulação da estratégia, propondo quatro perspectivas distintas: A clássica, a evolucionária, a sistêmica e a processual, que apresentam diferentes concepções sobre como se dá a estratégia e quais os seus resultados.
O autor apresenta diferentes abordagens que se diferenciam fundamentalmente em duas dimensões: os resultados da estratégia e os processos pelos quais ela surge. Ao Analisar a Figura 3 sugerida por Whittington (2002), percebe-se que o eixo vertical mede o grau em que a estratégia produz resultados, sejam eles de cunho puramente econômico que prevêem a maximização de lucros ou de forma plural que consideram os demais interesses organizacionais como a aceitação social e o status. Por sua vez, o eixo horizontal considera a forma como a estratégia surge, através de processos deliberados ou emergentes. Para resumir, os dois eixos refletem respostas diferentes para duas questões fundamentais: Para que serve a estratégia e como ela é desenvolvida (WHITTINGTON, 2002).








            Clássica                                                   Evolucionária
 


Processos                                                                                       Emergentes
Deliberados
                   Sistêmica                                                   Processual


                                               Plural
FIGURA 3Perspectivas Genéricas sobre Estratégia
Fonte: Whittington (2002).
A abordagem clássica, representada por estudiosos como Igor Ansoff, Michael Porter, Chandler e Sloan, associa a concepção de estratégia a processos racionais, utilitaristas e deliberados, tendo como objetivo principal a maximização dos lucros, de forma a aumentar as vantagens competitivas da organização. Isso quer dizer que o sucesso ou fracasso da organização são determinados internamente. Comparada com a classificação proposta por Volberda (2004), essa abordagem de Whittington (2002) se encaixa na perspectiva clássica da gestão estratégica.
Segundo Whittington (2002), as noções em torno da formulação da estratégia na abordagem clássica derivam da economia escocesa do século XVIII, enquanto sua implementação reporta-se ao modelo militar da Grécia antiga. Nessa abordagem predomina a noção do homem econômico racional, visto como um empreendedor, “agindo com perfeita racionalidade para maximizar ‘sua’ vantagem competitiva”.
Assim, a formulação da estratégia emerge de planejamentos de longo prazo e os gerentes atuam como os grandes arquitetos estratégicos, havendo uma dissociação entre a concepção e a implementação. Tal abordagem é mais relevante em ambientes estáveis e relativamente previsíveis.
A segunda abordagem de Whittington (2002) sugere que é o ambiente que seleciona a empresa, enfatizando a adaptação organizacional. Assim como na abordagem clássica, o objetivo principal é a maximização dos lucros.
Os teóricos dessa linha não acreditam na adaptação deliberada e sustentável das organizações, tendo em vista sua capacidade limitada de previsão e reação às inconstâncias ambientais. Diante de mercados competitivos, sob o ponto de vista dos evolucionistas, estratégias deliberadas não bastam para sustentar uma vantagem competitiva. São mais importantes as iniciativas inovadoras, das quais o ambiente possa selecionar a melhor (WHITTINGTON, 2002). Portanto, do ponto de vista evolucionário, o mercado seria o determinante nas escolhas estratégicas e os estrategistas devem apenas ajustar com eficácia o comportamento das organizações a este ambiente instável.
De forma análoga à perspectiva evolucionista, a abordagem processual também defende que a estratégia não se desenvolve de forma racional.
Conforme Whittington (2002), dois são os princípios fundamentais do pensamento processualista: (a) os limites cognitivos da ação humana, pois o homem possui uma capacidade racional limitada, que o impede de analisar uma série de fatos concomitantemente, tornando parcial sua interpretação do ambiente; (b) e a micropolítica das organizações, coalizões de indivíduos que possuem interesses próprios e barganham entre si para buscar uma solução conveniente a todos.
A estratégia é um processo emergente descoberto durante a ação e que atenderá a interesses pluralistas e não apenas à maximização dos lucros (WHITTINGTON, 2002).
Nessa concepção, a formulação estratégica não deriva apenas do posicionamento da organização no mercado, mas da capacidade de criar e renovar recursos distintos. O desempenho superior sustentável, na percepção processual, volta-se para o âmbito interno, construindo as habilidades e competências essenciais.
Outro ponto sugerido é a visão micro política das organizações. Estas não seriam unidas pelo interesse coletivo único do lucro, mas, sim, seriam formadas por coalizões de indivíduos com interesses pessoais e inclinações cognitivas que barganham entre si para atingir objetivos comuns, mais ou menos aceitáveis por todos (WHITTINGTON, 2002).
Segundo Whittington (2002) a estratégia emerge de um processo pragmático de aprendizado e comprometimento. Para o autor, a abordagem processual combina com burocracias protegidas, principalmente do setor público ou quase privado, pois muitas vezes o tamanho e a complexidade da organização exigem que o processo de estratégia envolva vários fatores e atores sociais.
A principal mensagem da abordagem sistêmica é que a estratégia deve ser vista sob o prisma sociológico. Enfatiza-se, portanto, o ambiente externo. Os teóricos sistêmicos defendem que os tomadores de decisões não possuem interesses puramente econômicos e utilitaristas. Na verdade, todos os indivíduos fazem parte de um sistema social que exerce pressões para que as organizações se amoldem a formas locais de realidade (WHITTINGTON, 2002).
Para Whittington (2002), as pressões da competição não garantem que os maximizadores de lucro serão os únicos a sobreviver: Os mercados podem ser manipulados ou iludidos, e as sociedades têm outros critérios, além do desempenho financeiro. A produção da estratégia nessa abordagem atende aos interesses plurais das organizações. Assim, os objetivos e a forma como as estratégias serão concebidas e implementadas estarão relacionados com as características sociais dos estrategistas e do contexto, sendo que as regras da cultura da sociedade local exercerão grande influência (Whittington, 2002), o que remete à perspectiva pós-moderna de (VOLBERDA, 2004).
Com essas quatro perspectivas Whittington (2002) responde à pergunta que abre o artigo: Afinal, como se formam as estratégias? O autor não defende a primazia de uma sobre a outra, mas afirma que, em decorrência de certas características da organização e do seu ambiente, haverá uma mais condizente: “Não há maneira melhor. A chave é adequar a estratégia ao mercado, aos ambientes organizacionais e sociais” (Whittington, 2002). As quatro perspectivas diferem entre si e é a sensibilidade sistêmica que auxilia na escolha correta, segundo o autor.

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