Até em função da atividade de CEO da GE, que ocupou por vários anos, no
comando de aproximadamente trezentas mil pessoas, em quase quinze grandes
negócios, desde motores de aviões a jato até cartões de crédito, para Welch
(2005) a estratégia esta mais associada à pratica do dia a dia. Considera os
mapas e gráficos interessantes, mas o fundamental é não tornar a estratégia
muito complexa. Entende que quanto mais se reflete sobre ela e quanto mais se
analisam os dados e detalhes, mais fácil é de se confundir.
Diverge da maioria dos métodos científicos pregados para o
desenvolvimento da estratégia, ensinados nas escolas de negócios, vendidos por
muitas empresas de auditoria e praticados em numerosos centros corporativos de
grandes empresas, pois os considera improdutivos (WELCH, 2005). Seu lema é
pense menos e faça mais. Considera sim a estratégia indispensável e a entende
como um processo interativo, não tão teórico e nem uma questão de vida ou
morte.
Considera três etapas como fundamentais. Primeiro, criar uma grande
idéia para o negócio — uma maneira inteligente, realista e rápida de conquistar
vantagem competitiva sustentável. Em segundo, por as pessoas certas nas
posições certas. Segundo Welch (2005), apesar dessa recomendação parecer
genérica, não o é. Para acelerar a grande idéia é necessário combinar certos
tipos de indivíduos com negócios de commodities e outros indivíduos totalmente
diferentes com negócios de alto valor agregado. E em terceiro lugar, buscar com
obstinação as melhores práticas para realizar a grande idéia, dentro ou fora da
organização, adaptando-as à realidade da empresa e melhorando-as continuamente.
A estratégia deslancha quando se desenvolve uma organização que aprende, na
qual as pessoas anseiam por fazer tudo melhor, todos os dias, assevera Welch
(2005). Adotam as melhores práticas de qualquer origem e as aprimoram para que
se tornem ainda mais eficazes. Pode-se ter a melhor idéia do mundo, mas sem
essa cultura de aprendizado, qualquer vantagem competitiva sustentável não será
duradoura.
Welch (2005) considera que o ideal é que a empresa funcione com a
velocidade, a informalidade e a abertura de uma loja da esquina. Com seus
recursos limitados, essas lojas precisam concentrar-se com a muita intensidade
em fazer alguma coisa muito bem. Cita o exemplo em Boston, de dois pequenos
negócios, distantes um quarteirão um do outro, que produzem constantemente um
fluxo surpreendente de clientes satisfeitos. Um é o Upper Crust Pizza. Seu
interior, sem adornos, está sempre cheio e ruidoso, no qual os clientes se
servem em pratos de papel e contam com uma seleção limitada de bebidas
não-alcoólicas. Todos comem defronte a uma grande bancada, como num bar. Os
atendentes não são grosseiros, mas não primam pela simpatia. O pedido é feito
diretamente na caixa registradora, mas a pizza é excelente. Os clientes começam
a fazer fila às onze da manhã para ver o "Pedaço do Dia" afixado na
porta. Nesse caso, a estratégia se concentra toda no produto. Já na outra loja,
os vendedores cumprimentam os clientes pelo nome e com um toque pessoal,
recomendam diferentes produtos, desde vitaminas até massageadores de pé. A loja
dispõe de um serviço de entregas altamente eficiente e oferece uma modalidade
de pagamento mensal por domicílio, no estilo dos velhos armazéns de bairro.
Tipicamente uma estratégia em serviços.
Para Welch (2005) estratégia é alocação de recursos. No final, tudo se
resume nisso. Estratégia significa fazer escolhas claras sobre como competir,
quem atender e quem não, independente do tamanho do negócio ou de suas
condições financeiras.
Quando Welch (2005) se tornou CEO da GE,em 1981, lançou uma iniciativa
que se tornou alvo de grande publicidade: "Ser a número um ou a numero
dois em todos os mercados, consertando, vendendo ou fechando para chegar
lá." Essa não era a estratégia, embora a tenham descrito como tal. Era um
lema que direcionava os negócios para frente. Não mais seriam cultivados
negócios não-competitivos, só por questão de tradição. A iniciativa do número
um ou número dois era uma ferramenta de comunicação para limpar o portfólio e
funcionou. A estratégia ficou mais direcional. A idéia era afastar a GE de
negócios que estavam sendo comoditizados e buscar negócios que fabricassem
produtos de alta tecnologia e alto valor agregado ou passar a vender serviços.
Como parte dessa iniciativa, aprimoraram os recursos humanos com um foco
intenso no treinamento e no desenvolvimento.
A escolha dessa estratégia aconteceu depois de diversos massacres pelos
japoneses na década de 1970, que rapidamente comoditizaram negócios em que haviam
margens significativas, como televisores e condicionadores de ar (WELCH, 2005).
A GE acabou recuando para a defesa, num jogo condenado ao fracasso, pois seus
atributos de qualidade, custo e serviços — as armas de um negócio de
commodities — não eram bastante bons em comparação à capacidade de inovação e
de baixo custo dos japoneses.
Afastar-se tanto quanto possível de todos os negócios com tendência a
virar comodity é vital para Welch (2005). Essa foi a razão por que venderam
diversos negócios. Foi também por isso que se empenharam no desenvolvimento de
produtos de alta tecnologia em negócios de energia, equipamentos médicos,
motores de aviação e locomotivas.
A estratégia durou porque se baseava em dois princípios básicos: a
comoditização é ruim e as pessoas são tudo. Mesmo assim, para Welch (2005), algumas
empresas conseguem vencer em mercados de commodities — a Dell e a Wal-Mart como
dois exemplos de organizações que souberam manipular as alavancas dos custos,
qualidade e serviços para alcançarem o sucesso em jogos extremamente
competitivos. Mas isso é extremamente difícil, pois não existe margem nenhuma
para erro. Sugere que ao pensar em estratégia se pense em descomoditização,
buscando intensamente criar produtos e serviços diferenciados para reter os
clientes. Recorrer à inovação,
tecnologia, processos internos, serviços ou a qualquer outra coisa que
contribua para a singularidade do negócio faculta que, se tudo isso for feito
da maneira certa até se possa cometer alguns erros e ainda assim alcançar o
sucesso.
Entende Welch (2005) que para um negócio de commodities ter sucesso,
evidentemente seu CEO tem de pensar em estratégia, mas preferir implementá-la,
estar no ambiente ao lado de pessoas que se prendem aos detalhes, conversando
sobre como aumentar a eficiência de todos os processos e com disciplina
impecável. No outro extremo, cita o caso de Brian, que detestava o feijão com
arroz da gestão e as análises sobre margens operacionais e fluxos de caixa que
o deixavam entediado. Mas tinha o instinto e a visão para fazer grandes
apostas, jogando um bilhão de dólares num único investimento, que demoraria
anos para oferecer retorno. Adicionalmente, a personalidade de Brian fazia dele
um grande vendedor para os clientes, que se contagiavam por seu entusiasmo em
relação a cada novo avanço tecnológico. Exemplos de encaixe perfeito — as
pessoas certas em suas posições, talhadas para a situação do negócio e
amoldadas para a estratégia, apesar de reconhecer que nem sempre se tem essa
sorte, e às vezes a estratégia é implementada sem a compatibilidade ideal de
perfis.
Para o desenvolvimento da grande idéia proposto inicialmente, Welch (2005)
sugere a adoção de seu método dos cinco slides de power point, sendo que esse
processo de avaliação deve demorar de dois dias a um mês. No slide um devem
acontecer questionamentos do tipo: Como está o campo de jogo agora? Quais são
os concorrentes neste negócio, grandes e pequenos, novos e velhos? Qual é a
participação de cada um, globalmente e em cada mercado? Onde nos encaixamos?
Quais são as características deste negócio? É de commodities, de alto valor
agregado ou fica em algum ponto intermediário? Seu ciclo é longo ou curto? Onde
se situa na curva de crescimento? Quais são os indutores da lucratividade?
Quais são os pontos fortes e os pontos fracos de cada concorrente? Qual é a
qualidade dos seus produtos? Quanto cada um gasta com P&D? Qual é o tamanho
das respectivas equipes de venda? Até que ponto cada cultura é movida pelo
desempenho? Quais são os principais clientes deste negócio, e como compram?
Para Welch (2005), o slide dois questiona: O que os concorrentes estão
fazendo? O que cada concorrente fez no ano passado para mudar o campo de jogo?
Alguém lançou novos produtos, novas tecnologias ou novos canais de distribuição
capazes de mudar o jogo? Novos concorrentes entraram no mercado e o que fizeram
no ano passado? O slide três considera os seguintes aspectos: O que está sendo
feito pela empresa? O que foi feito no ano passado para mudar o campo de jogo?
Foi comprada alguma empresa, lançou-se algum novo produto, roubou o principal
vendedor de um concorrente ou licenciou nova tecnologia de alguma empresa
emergente? Alguma vantagem competitiva desfrutada no passado foi perdida? Um
ótimo vendedor, algum produto especial,uma tecnologia patenteada?
De acordo com Weclh (2005), o slide quatro propõe levantar as
informações do que mais teme a empresa no ano seguinte e questionamentos do
tipo: que coisas um concorrente poderia fazer para comprometer a rentabilidade?
Que novos produtos ou tecnologias os concorrentes poderiam lançar que talvez
mudassem o jogo? Que operação de fusão ou incorporação realizada pelos
concorrentes poderia desequilibrar o mercado? Já o slide cinco questiona qual
será a tática vencedora? O que pode ser feito para mudar o campo de jogo —
aquisição de empresas, novos produtos, globalização? O que se pode fazer para
prender os clientes como nunca e mais do que a qualquer outro concorrente?
Ao longo dos anos, a GE aproveitou ótimas idéias resultantes de visitas
à Wal-Mart, à Toyota e a dezenas de outras empresas (WELCH, 2005). Em reuniões
trimestrais de líderes de negócios, pedia-se aos participantes para expor suas
melhores práticas que pudessem ser aproveitadas em outras áreas. As melhores
práticas não só representavam requisito fundamental para a execução da
estratégia, mas também proporcionavam vantagem competitiva sustentável, quando
associadas à melhoria contínua.
Qualquer estratégia, por mais inteligente, já nasce morta se a empresa
não lhe der vida por meio das pessoas certas (WELCH, 2005). A estratégia
decolará apenas se essas pessoas importantes assumirem a liderança de sua
execução. As melhores práticas geram vantagem competitiva sustentável sim, pois
apesar de fáceis de copiar, a receita de sucesso é imitar e melhorar
incessantemente. Imitar em si já é muito difícil, pois as pessoas, de forma
geral, não querem copiar, gostam do próprio trabalho, mas para que a estratégia
seja bem-sucedida, é preciso superar essa atitude mental e ir muito mais longe.
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