A estratégia do Oceano Azul esta associada a mudanças no modelo de
negócio. Simplesmente criar os elementos de valor (tais como variedade de
produtos ou portfólio de serviços) significa continuar no jogo do oceano
vermelho, já que os concorrentes também estão fazendo o mesmo movimento. A
verdadeira inovação de valor é aquela em que “reposicionamos” a oferta de valor
para os clientes, ou seja, a proposta passa a ser tão exclusiva e gera uma
experiência tão inusitada para os clientes, que é quase como se a
reinventássemos. Ao tornar a concorrência irrelevante, tem-se flexibilidade
para trabalhar o aspecto preço. (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 12).
As empresas que se perdem nas estratégias atuam no oceano vermelho,
adotam uma abordagem convencional, empenhando-se em vencer a concorrência por
meio da construção de posições defensáveis no setor em questão, preocupando-se
em demasia com o market share, num jogo de soma zero, já que a cada ponto ganho
de participação existe uma correspondente e proporcional perda. As empresas
criadoras de oceanos azuis estudam os concorrentes para analisar o que esta
sendo praticado no setor, mas não os enxergam como padrão a ser atingido. Em
vez disso, adotam uma lógica estratégica diferente, chamada de inovação de
valor, pois em vez de se esforçar para superar os concorrentes, oferecem saltos
de valor para os compradores e para as próprias empresas, que assim desbravam
novos espaços de mercado inexplorados. (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 13).
O fator de diferenciação entre vencedores e perdedores na criação de oceanos
azuis não é nem o ineditismo tecnológico nem a rapidez de entrada no mercado.
Às vezes, tais fatores estão presentes; no entanto, com mais frequência, não
são relevantes (KIM & MAUBORGNE, 2005). A inovação de valor ocorre apenas
quando as empresas alinham inovação com utilidade, com preço e com ganhos de
custo. Se não conseguirem associar inovação e valor dessa maneira, os
inovadores de tecnologia e os pioneiros de mercado geralmente criam embriões
que acabam sendo desenvolvidos por outras empresas.
Tradicionalmente, acredita-se que as empresas, quando comparadas aos
concorrentes, devem ser capazes de criar mais valor para os clientes, a custo
mais alto, ou de criar o mesmo valor para os clientes, a custo mais baixo. Sob
este enfoque, estratégia significa escolher entre diferenciação e liderança de
custos. Em contraste, as empresas que buscam criar oceanos azuis perseguem a
diferenciação e a liderança de custos ao mesmo tempo (KIM & MAUBORGNE,
2005, p. 13).
Através de ferramentas analíticas é que os executivos têm como agir para
transpor as fronteiras dos atuais mercados competitivos. A estratégia do oceano
azul eficaz consiste em minimizar os riscos, e não em assumi-los às cegas. Para
identificar os valores considerados tradicionalmente importantes no segmento,
constrói-se a matriz de avaliação de valor. Trata-se de um instrumento de
diagnóstico e modelo para o desenvolvimento de uma estratégia consistente de
oceano azul (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 24). Além de identificar a situação
atual da empresa no mercado, permite que compreenda em que os concorrentes
estão investindo, os atributos nos quais se baseia a competição em termos de
produtos, serviços e entrega, e o que os compradores recebem como clientes de
qualquer das ofertas competitivas já existentes.
A fim de elaborar uma reconstrução dos elementos de valor para o
comprador, na construção de uma nova curva de valor, foi desenvolvido o modelo
das quatro ações (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 29). Como mostra a Figura 8,
para romper o trade-off diferenciação - baixo custo e criar uma nova curva de
valor, utilizam-se quatro perguntas-chave que questionam a lógica estratégica e
o modelo de negócios do setor:
Figura 8 – Modelo das 4 ações
Fonte: Kim
& Mauborgne (2005)
• Que atributos considerados
importantes pelo setor devem ser eliminados?
• Que atributos devem ser
reduzidos abaixo dos padrões setoriais?
• Que atributos devem ser
elevados acima dos padrões setoriais?
• Que atributos nunca oferecidos
pelo setor devem ser criados?
A primeira pergunta força a empresa a considerar a eliminação de
atributos de valor que tradicionalmente são considerados para a concorrência no
setor. Às vezes, os atributos valorizados pelos compradores mudam, mas as
empresas que se empenham em imitar umas as outras não observam a mudança. A
segunda pergunta estimula a empresa a examinar se existe excesso nos atributos
dos produtos e serviços oferecidos, que não são percebidos como importantes
pelos clientes do segmento que se pretende atingir (KIM & MAUBORGNE, 2005).
Nesse caso, as empresas prestam serviços além dos requerimentos dos clientes,
aumentando inutilmente sua estrutura de custos.
A terceira pergunta leva a empresa a identificar e corrigir as
limitações que o setor impõe aos clientes. A quarta pergunta ajuda a empresa a
descobrir fontes novas de valor para os compradores, buscando criar novas
demandas.
É por meio das duas primeiras ações que a empresa pode enxugar sua
estrutura de custos. As duas outras ações (elevação e criação) fornecem um
direcionamento sobre como aumentar o valor para os compradores e criar nova
demanda. Em conjunto, essas quatro ações permitem que se explore
sistematicamente maneiras de se rearranjar os atributos que geram valor para os
clientes no setor (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 30). A eliminação e a criação
fazem com que as empresas mudem os próprios atributos, se posicionando de uma
forma diferente no mercado, para atuar num segmento específico, considerando
que toda a boa estratégia necessariamente tem foco e o perfil estratégico da
empresa, ou sua curva de valor, deve mostrar isto com nitidez. Identificar o
publico alvo e estar ciente de quem vai atender e quem não vai.
Para Kim & Mauborgne, o resultado da aplicação do modelo das quatro
ações à matriz de avaliação de valor do setor, como mostra o Gráfico 1, é a
descoberta de novos aspectos na leitura de velhas verdades não questionadas (KIM
& MAUBORGNE, 2005, p. 30).
Gráfico 1 – Matriz de avaliação de valor
Fonte:
Kim & Mauborgne (2005)
Quando a estratégia é formulada de forma reativa, como tentativa da empresa
acompanhar a concorrência, ela perde força (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 41).
As três características consideradas para ser uma boa estratégia do oceano azul
são: foco, singularidade e mensagem consistente ao mercado.
Quando a curva de valor na matriz de avaliação de valor mostra que os
níveis de oferta da empresa são altos em todos os atributos, a pergunta cabível
é: Tem mercado para esses investimentos? (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 42)
A curva de valor que parece ziguezague, sinaliza que a empresa não tem
uma estratégia coerente, mas talvez, um conjunto de ações independentes, sendo
até possível que cada uma delas isoladamente faça sentido.
A Apple observou a onda crescente no compartilhamento de músicas ilegais
pela Internet, que começou no início da década de 1990. Os programas de troca
de arquivos de música, como Napster, Kazaa e LimeWire, haviam criado uma rede
gratuita e ilegal de amantes de música, que permutavam gravações em todo o
mundo. Em 2003, mais de dois bilhões de arquivos de música trafegavam na
internet a cada mês (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 76). Enquanto a indústria
fonográfica se empenhava em combater a pirataria de CDs físicos, o intercâmbio
de música digital ilegal prosseguia em ritmo cada vez mais acelerado.
Com tecnologia disponível para que qualquer um baixasse no computador
música digital de graça, em vez de pagar R$ 30,00 em média por um CD, a
tendência era nítida, conforme se constatava pela demanda em rápido crescimento
por MP3 players, que reproduziam música digital em aparelhos móveis, como o
grande sucesso iPod, da Apple (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 76)
Adicionalmente, a Apple ao observar essa tendência de mercado,
identificou outra oportunidade de negócios, que naturalmente aparece, quando da
mudança de tecnologias, já que lacunas se formam (KIM & MAUBORGNE, 2005).
Em contraste com o mercado que reagia negativamente a esse processo, a Apple,
agiu de maneira pró ativa e se deu bem. Em 2003 lançou o iTunes, loja digitai
de música. Por meio de um acordo com cinco grandes empresas de música - BMG, EMI
Group, Sony, Universal Music Group e Warner Brothers Records – o iTunes oferece
o download de músicas ao gosto do cliente, de maneira legal, fácil e flexível.
Para Kim & Mauborgne (2005), o iTunes criou condições para que os
compradores naveguem de graça entre 200 mil músicas, ouçam amostras de 30
segundos, e baixem cada música por US$0,99 ou um álbum completo por US$9,99. Ao
permitir a compra de músicas isoladas e, como parte da estratégia, praticar
preços por música bem inferiores aos do mercado convencional, o iTunes eliminou
importante causa de aborrecimento para os clientes: a necessidade de comprar
todo o CD quando querem apenas uma ou duas músicas. O iTunes também saltou à
frente dos serviços de download gratuito, ao fornecer qualidade de som, assim
como navegação, pesquisa e experimentação intuitivas.
O processo de descoberta e exploração de oceanos azuis não se refere à
previsão ou prevenção de tendências setoriais. Tampouco é um processo
experimental de implementação das mais inovadoras e ousadas idéias de negócios.
Os gestores se envolvem num processo estruturado de reordenação das realidades
do mercado, de uma maneira totalmente nova. Por meio da reconstrução dos atuais
elementos do mercado, além das fronteiras dos setores e dos mercados, os
gestores conseguirão libertar-se da competição voraz nos oceanos vermelhos (KIM
& MAUBORGNE, 2005, p. 79).
A Samsung Electronics usou as matrizes de avaliação de valor em sua
conferência corporativa de 2000, da qual participaram mais de 70 gestores de
alto nível, inclusive o CEO. Os chefes de unidades apresentaram suas matrizes e
planos de implementação aos executivos seniores e uns aos outros. As discussões
foram acaloradas e vários chefes de unidades argumentaram que a liberdade de
suas unidades no desenvolvimento das estratégias futuras estava limitada pelo grau
de competição que enfrentavam. Os líderes com baixa performance achavam que
tinham pouca escolha, a não ser imitar as ofertas dos concorrentes. Essa
hipótese revelou-se falsa, quando uma das unidades em mais rápido crescimento –
o negócio de telefonia móvel - apresentou sua matriz de avaliação de valor (KIM
& MAUBORGNE, 2005, p. 95). A unidade não só tinha uma curva de valor
diferenciada, mas também enfrentava a mais intensa competição.
A Samsung Electronics institucionalizou o uso de matrizes em suas
principais decisões sobre criação de negócios, ao lançar o Centro do Programa
de Inovação de Valor (PIV), em 1998. Equipes compostas de representantes chave
das várias unidades de negócios se reúnem no Centro PIV para discutir seus projetos
estratégicos (KIM & MAUBORGNE, 2005). Essas discussões geralmente giram em
torno das matrizes de avaliação de valor. Com o conhecimento assim desenvolvido
sobre inovação de valor, o centro, em suas 20 salas de projeto, ajuda as
unidades nas decisões sobre ofertas de produtos e serviços.
Em 2003, o PIV completou mais de 80 projetos estratégicos e abriu mais
de dez escritórios PIV, para atender às demandas crescentes das unidades de
negócios (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 95). Por exemplo, a maior TV LCD do
mundo, com 40 polegadas, lançada em dezembro de 2002, é o resultado do esforço
de quatro meses em regime de dedicação exclusiva de uma equipe de projeto do
centro. O mesmo se ocorreu com o celular mais vendido do mundo, o SGH T-100,
que vendeu mais de dez milhões de unidades.
Desde 1999, a Samsung Electronics repete todos os anos sua convenção
sobre Inovação de Valor, com a presença de todos os seus altos executivos.
Nesse evento, apresentam-se e analisam-se os projetos de maior sucesso em
inovação de valor, premiando-se os melhores casos (KIM & MAUBORGNE, 2005).
Essa é a maneira pela qual a Samsung Electronics instiga uma cultura
organizacional e normas estratégicas que impulsionam seu portfólio de negócios
dos oceanos vermelhos para oceanos azuis.
Para Kim & Mauborgne (2005), também chama a atenção o caso do Modelo
T da Ford. Antes de seu lançamento, os mais de 500 fabricantes de automóveis
nos Estados Unidos se empenhavam em produzir automóveis de luxo sob encomenda
para os ricos. O Modelo T foi denominado carro das grandes multidões. Era
produzido em apenas uma cor (preto) e em apenas um modelo, com poucas opções.
Dessa maneira, a Ford eliminou os investimentos em imagem na fase de uso. Em
vez de desenvolver carros para fins de semana no campo - luxo que poucos podiam
justificar - o Modelo T da Ford foi feito para o uso diário. Era confiável,
durável e fácil de consertar.
A Ford conseguiu converter a maioria dos não clientes da indústria
automobilística, a saber, os clientes das carruagens puxadas por cavalos, em
clientes de seu próprio oceano azul, ao definir o preço do seu Modelo T
comparando com as carruagens puxadas por cavalos, em vez de com os carros de
outros fabricantes de veículos automotivos (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 127).
Em 1924, o carro já se tomara artigo essencial para as famílias, quando
a renda média dos domicílios americanos já era maior. Naquele ano, a General
Motors (GM) lançou uma linha de automóveis que criou um novo oceano azul na
indústria automobilística (KIM & MAUBORGNE, 2005). Em contraste com a
estratégia da Ford, caracterizada pela oferta de um modelo único de automóvel,
altamente funcional mas sem opções para o cliente, nem mesmo quanto à cor, a GM
lançou “um carro para todos os bolsos e propósitos” - estratégia concebida pelo
chairman Alfred Sloan, no intuito de apelar para as dimensões emocionais do
mercado de massa dos Estados Unidos.
Enquanto a Ford insistia no argumento de “carruagem sem cavalos"
funcional, a GM tornou o carro divertido, excitante, confortável e elegante. As
fábricas da GM produziam ampla variedade de modelos, com novas cores e estilos,
atualizados todos os anos (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 192). O conceito de
“modelo do ano” criou nova demanda, pois os compradores começaram a buscar melhores
modelos em termos de moda e conforto. Como os carros eram substituídos com mais
frequência, também se desenvolveu o mercado de carros usados.
A demanda pelos carros elegantes e cheios de emoção da GM disparou (KIM
& MAUBORGNE, 2005). De 1926 a 1950, a quantidade total de carros vendidos
nos Estados Unidos saltou de dois milhões para sete milhões por ano, e a
General Motors aumentou sua participação no mercado total de 20% para 50%,
enquanto a da Ford caía de 50% para 20%.
Na década de 1970, os japoneses criaram um novo oceano azul, desafiando
a indústria automobilística americana com carros pequenos e eficientes (KIM
& MAUBORGNE, 2005, p. 193). Em vez de seguir a lógica implícita da
indústria americana – automóveis grandes e com muito luxo, os japoneses
alteraram a lógica convencional, perseguindo qualidade implacável, dimensões
reduzidas e novo conceito de utilidade em termos de alta eficiência no consumo
de combustível.
Quando estourou a crise do petróleo, na década de 1970, os consumidores
americanos dispararam para os automóveis eficientes e robustos, produzidos por
empresas japonesas como Honda, Toyota e Nissan (KIM & MAUBORGNE, 2005). Os
japoneses passaram a ocupar a mente dos consumidores. Seus automóveis compactos
e eficientes criaram novo oceano azul de oportunidades e novamente a demanda
disparou.
Outro exemplo, no início dos anos da década de 1990, a Dell Computer
Corporation desbravou um oceano azul na indústria de computação (KIM &
MAUBORGNE, 2005). Tradicionalmente, os fabricantes de computadores concorriam
entre si oferecendo máquinas mais rápidas, com mais itens e mais software. A
Dell, contudo, desafiou a lógica setorial ao mudar as experiências de compra e
entrega dos compradores. Com suas vendas diretas aos clientes, a Dell conseguia
vender seus PCs a preços 40% inferiores aos dos revendedores da IBM, ainda
ganhando dinheiro.
Além disso, as vendas diretas eram atraentes para os clientes, pois a
Dell oferecia bons prazos de entrega e boa qualidade de equipamentos. Por
exemplo, segundo Kim & Mauborgne (2005), o tempo decorrido entre o pedido
do cliente e a entrega do produto era de quatro dias na Dell, em comparação com
a média de dez semanas dos concorrentes. Através do sistema de pedidos on-line
e por telefone da Dell, os clientes tinham a opção de personalizar suas
máquinas de acordo com suas necessidades. Em paralelo, o modelo de produção sob
encomenda criava condições para que a Dell reduzisse substancialmente seus
custos de estocagem.
Um fator crítico para o sucesso aplicando-se a Estratégia do Oecano Azul:
a equipe precisa ter licença dos executivos para traçar caminhos não
convencionais nem triviais do negócio. Avançar na cadeia de valor e conversar
direto com o cliente do cliente e depois convencer o cliente direto a trabalhar
algo diferente para o cliente do cliente é muitas vezes o caminho a ser
seguido. O objetivo central é converter a demanda potencial em demanda real (KIM
& MAUBORGNE, 2005, p. 209).
Para se conseguir o apoio dos diversos colaboradores de uma empresa aos
projetos propostos, três princípios se fazem importantes e definem o processo
considerado justo: Envolvimento, Explicação e clareza de Expectativas (KIM
& MAUBORGNE, 2005). Não importa que as pessoas sejam executivos ou simples
operadores, se aplica a todos.
Por que o processo justo é importante na formação das atitudes e do
comportamento das pessoas? Emocionalmente, as pessoas precisam de
reconhecimento do seu valor, não como “mão de obra”, “pessoal" ou
“recursos humanos”, mas como seres humanos a serem tratados com todo o respeito
e dignidade e a serem valorizados por seus méritos individuais,
independentemente do nível hierárquico (KIM & MAUBORGNE, 2005, p. 179).
Intelectualmente, os indivíduos buscam reconhecimento de suas idéias, no
sentido de que peçam suas opiniões e sugestões e reflitam sobre elas,
demonstrando consideração por sua inteligência e pedindo que exponham seus
pensamentos.
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